quarta-feira, 3 de outubro de 2007

TONS E SOBRETONS PARA VER A CIDADE

Artista são-joanense, Adilson Nascimento, abre exposição dia 11, às 20h, no Centro Cultural da UFSJ

A certa altura de O declínio do Império Americano, o belo filme do canadense Denys Arcand lançado em 1986, Claude, o professor de História da Arte, surge na tela tendo slides de pinturas de grandes mestres projetadas sobre sua face numa sala de aula às escuras. "Há pintores da noite, como Rembrandt ou George de la Tour. Mas há poucos do amanhecer. Porque o amanhecer é a hora da morte. A hora da luz glauca. Há Géricault e sobretudo Caravaggio.

Essa explicação pode muito bem deixar antever o que o público pode esperar da exposição Pinturas, que Adilson Nascimento abre no Centro Cultural da UFSJ dia 11 de outubro, a partir das 20h. Rembrandt e Caravaggio são a fonte de inspiração e de pesquisas do artista são-joanense, que há mais de 20 anos estuda a difícil técnica do claro-escuro, muito difundida na Europa renascentista. "Ainda criança, vi a reprodução de uma pintura de Rembrandt e me encantei profundamente", relembra.



Autodidata, Adilson começou a busca pela perfeita composição da luz e da sombra contrapostas em modos particulares de ver as gentes e as paisagens de sua cidade natal. Tons e sobretons do anoitecer e do amanhecer fazem surgir em suas telas imagens de uma São João del-Rei histórica, em vias de formação, ainda caracterizada por amplos espaços bucólicos cortados pela linha do trem.



Os retratos têm uma força que impressiona pelo realismo e pela interpretação. O do Monsenhor Paiva, ao lado, prior da Matriz do Pilar, está prestes a dizer as palavras da consagração. Juca, o mendigo que faz ponto nas escadarias da Igreja das Mercês, dorme profundamente nos escuros da noite. "Tenho gosto em retratar pessoas vivendo o cotidiano. Sejam ricas ou pobres, procuro desenhá-las como eu as vejo: belas," explica o artista.



Se Adilson tivesse escolhido a fotografia como arte, certamente seria discípulo do francês Henri Cartier-Bresson, o artista que pregava a captura do momento decisivo, o mestre do preto e branco, do escuro e do claro. Aquele que, como Adilson, considerava os instantes da vida como um "patrimônio vivo a ser lembrado amanhã." No entanto, ele escolheu ser artista plástico e restaurador, tendo também como mestre, nessa seara, o renomado conterrâneo Carlos Magno de Araújo.





O resultado é o que se pode ver no Solar da Baronesa até o dia 04 de novembro.


Veja a matéria no site da UFSJ